SÃO PAULO - Bandeiras próprias, reformulações de redes e
investimentos em ampliações são algumas das armas utilizadas por grandes
bancos — como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — no lucrativo
mercado brasileiro de cartões. No centro da disputa, cada vez mais
acirrada, está um setor que cresce a taxas de 15% ao ano, movimentou R$
724,3 bilhões em 2012 e deve girar R$ 833 bilhões este ano. No primeiros
semestre foram R$ 384 bilhões no país, uma alta de 17% sobre o mesmo
período de 2012, de acordo com dados da Associação Brasileira de Cartões
(Abecs).
Os
números dos balanços dos dois maiores bancos privados do país dão uma
boa medida desse movimento. No Bradesco, 35% de suas receitas com
serviços no terceiro trimestre vieram da área de cartões, enquanto as
tarifas cobradas pela manutenção das contas correntes representaram 18%.
Já no Itaú Unibanco, que incorporou os 50% da Redecard que estavam nas
mãos do Citi, 40% da receita com serviços vieram dos cartões, ao passo
que a arrecadação com as tarifas de conta representaram 19% do total.
O
lançamento da bandeira Hiper e a reformulação da Redecard, rebatizada
de Rede, movimentos feitos recentemente pelo Itaú Unibanco, esquentaram a
guerra. Do outro lado do front está o Bradesco com a Elo e a Cielo —
respectivamente a bandeira e a rede de cadastramento e captura das
transações das maquininhas nas lojas (chamada de adquirência). Na
empreitada, o Bradesco tem como sócios no negócio a Caixa Econômica
Federal e o Banco do Brasil.
Além do potencial de negócios, a
opção dos maiores bancos do país por bandeiras próprias de cartões é
parte da estratégia de elevar as receitas com serviços, já que as
operações de crédito tendem a render menos com a perspectiva de taxas de
juros menores no país e a preferência por linhas de crédito mais
conservadoras, para fugir da inadimplência.
De olho nas classes emergentes
—
Os bancos têm remuneração em toda a cadeia do cartão, desde a cobrança
de aluguel da máquina e da antecipação dos pagamentos aos
estabelecimentos comerciais, até a taxa de juros do rotativo cobrada dos
clientes. Com o padrão de menos risco adotado pelos bancos no crédito, é
preciso gerar ganhos em outras fronteiras — explica Luís Miguel
Santacreu, analista de bancos da Austin Rating.
Com as bandeiras
próprias, os maiores bancos nacionais — que pagam royalties quando
emitem cartões das bandeiras internacionais, como Visa, Mastercard e
American Express — miram as novas classes emergentes e ampliam as
margens nos seus negócios. Atualmente, a posse de cartões é mais
representativa nos extratos sociais mais altos. De acordo com a Abecs,
nas classes A e B, 90% das pessoas têm cartão; na classe C, são 70%; e
nas D e E, são 42%.
— Existe um espaço de crescimento muito
grande. Há uma oportunidade enorme de capturar receita, que será
disputada pelos bancos — afirma Marcos Bader, diretor-geral do Bradesco
Cartões.
Nem no Bradesco nem no Itaú Unibanco é preciso ser
correntista para adquirir cartão das bandeiras nacionais. As duas
instituições também fazem questão de frisar que os cartões Elo ou Hiper
não são necessariamente para as classes C, D e E. Mas compartilham da
estratégia de converter as taxas de anuidade do plástico (R$ 10 mensais)
em crédito para celular pré-pago.
— Inicialmente, a oferta que
pensamos é para rendas média e baixa. E também é um produto que tem
apelo aos não bancarizados — conta Marcos Magalhães, diretor de cartões
do Itaú Unibanco.
Vale refeição agora com chip
Não
por acaso, o Santander também está negociando para aumentar sua
participação, hoje de 50%, na processadora de transações GetNet. O
presidente do banco, Jesus Zabalza, diz que “quer um percentual muito
elevado” da empresa, “quase total”.
A bandeira Elo, do Bradesco,
chegou ao mercado em 2011 e não é limitada às operações de crédito, como
a Hiper, do Itaú Unibanco. Há cartões de débito e pré-pagos também. Com
abrangência maior, o banco já conseguiu uma base de 30 milhões de
clientes usando a bandeira.
A estudante de administração e
recepcionista Camila Ribeiro, de 22 anos, é uma das usuárias da Elo. Ela
teve seu cartão de refeição, o Visa Vale, substituído por um Elo, sem
que solicitasse. A surpresa foi bem-vinda.
— Agora meu cartão tem
chip, o que é mais seguro. Além disso, percebi que aumentou a quantidade
de lugares em que eu posso passar o cartão. A cantina da faculdade, por
exemplo, agora aceita meu vale — disse a jovem.
A participação de
mercado é disputada. Segundo a Abecs, das transações feitas ao longo do
ano passado, 54% foram feitas pela Cielo, 40% pela Redecard e 6% pela
GetNet.